terça-feira, 29 de março de 2011

Ex-vice presidente, José Alencar, morre aos 79 anos

Lutando bravamente contra o câncer desde 1997, faleceu hoje nosso ex-vice presidente José Alencar.
Podemos dizer que ele, enfim, pôde descansar!

Há alguns dias atrás eu recebi um e-mail interessante, de uma entrevista dada por ele a uma importante revista de circulação nacional, entrevista na qual ele nos dá uma bela lição de vida e de humildade, entrevista onde ele demonstrar estar placidamente "preparado" para a morte e, que em respeito a sua morte, vou postar aqui:

 Lição de vida...

"A humildade não está na pobreza, não está na indigência, na penúria, na necessidade , na nudez e nem na fome".

*Desde quando o senhor sabe que, do ponto de vista médico, sua doença é incurável?
JA - Os médicos chegaram a essa conclusão há uns dois anos e logo me contaram. E não poderia ser diferente, pois sempre pedi para estar plenamente informado.
A informação me tranquiliza. Ela me dá armas para lutar. Sinto a obrigação de ser absolutamente transparente quando me refiro à doença em público. Ninguém tem nada a ver com o câncer do José Alencar, mas com o câncer do vice-presidente, sim. Um homem público com cargo eletivo não se pertence.

*O senhor costuma usar o futebol como metáfora para explicar a sua luta contra a doença. Certa vez, disse que estava ganhando de 1 a 0. De outra, que estava empatado. E, agora, qual é o placar?
JA - Olha, depois de todas as cirurgias pelas quais passei nos últimos anos, agora me sinto debilitado para viver o momento mais prazeroso de uma partida: vibrar quando faço um gol. Não tenho mais forças para subir no alambrado e festejar.

*Como a doença alterou a sua rotina?
JA - Mineiro costuma avaliar uma determinada situação dizendo que "o trem está bom ou ruim". O trem está ficando feio para o meu lado. Minha vida começou a mudar nos últimos meses. Ando cansado. O tratamento que eu fiz nos Estados Unidos me deu essa canseira. Ando um pouco e já me canso. Outro fato que mudou drasticamente minha rotina foi a colostomia (desvio do intestino para uma saída aberta na lateral da barriga, onde são colocadas bolsas plásticas), herança da última cirurgia, em julho. Faço o máximo de esforço para trabalhar normalmente. O trabalho me dá a sensação de cumprir com meu dever. Mas, às vezes, preciso de ajuda. Tenho a minha mulher, Mariza e a Jaciara (enfermeira da Presidência da República) para me auxiliarem com a colostomia. Quando, por algum motivo, elas não podem me acompanhar, recorro a outros dois enfermeiros, o Márcio e o Dirceu. Sou atendido por eles no próprio gabinete. Se estou em uma reunião, por exemplo, digo que vou ao banheiro, chamo um deles e o que tem de ser feito é feito e pronto. Sem drama nenhum.

*O senhor não passa por momentos de angústia?
JA - Você deveria me perguntar se eu sei o que é angústia. Eu lhe responderia o seguinte: desconheço esse sentimento. Nunca tive isso. Desde pequeno sou assim, e não é a doença que vai mudar isso.

*O agravamento da doença lhe trouxe algum tipo de reflexão?
JA - A doença me ensinou a ser mais humilde. Especialmente, depois da colostomia. A todo momento, peço a Deus para me conceder a graça da humildade. E Ele tem sido generoso comigo. Eu precisava disso em minha vida. Sempre fui um atrevido. Se não o fosse, não teria construído o que construí e não teria entrado na política.

*É penoso para o senhor praticar a humildade?
JA - Não, porque a humildade se desenvolve naturalmente no sofrimento. Sou obrigado a me adaptar a uma realidade em que dependo de outras pessoas para executar tarefas básicas. Pouco adianta eu ficar nervoso com determinadas limitações. Uma das lições da humildade foi perceber que existem pessoas muito mais elevadas do que eu, como os profissionais de saúde que cuidam de mim. Isso vale tanto para os médicos Paulo Hoff, Roberto Kalil, Raul Cutait e Miguel Srougi quanto para os enfermeiros e auxiliares de enfermagem anônimos que me assistem. Cheguei à conclusão de que o que eu faço profissionalmente tem menos importância do que o que eles fazem. Isso porque meu trabalho quase não tem efeito direto sobre o próximo. Pensando bem, o sofrimento é enriquecedor.

*Essa sua consideração não seria uma forma de se preparar para a morte?
JA - Provavelmente, sim. Quando eu era menino, tinha uma professora que repetia a seguinte oração: "Livrai-nos da morte repentina". O que significa isso? Significa que a morte consciente é melhor do que a repentina. Ela nos dá a oportunidade de refletir.

*O senhor tem medo da morte?
JA - Estou preparado para a morte como nunca estive nos últimos tempos. A morte para mim hoje seria um prêmio. Tornei-me uma pessoa muito melhor. Isso não significa que tenha desistido de lutar pela vida. A luta é um princípio cristão, inclusive. Vivo dia após dia de forma plena. Até porque nem o melhor médico do mundo é capaz de prever o dia da morte de seu paciente. Isso cabe a Deus, exclusivamente.

*Se recebesse a notícia de que foi curado, o que faria primeiro?
JA - Abraçaria minha esposa, Mariza e diria: "Muito obrigado por ter cuidado tão bem de mim".




Ele deu essa entrevista aos 77 anos, depois disso ainda lutou bravamente por mais dois anos... Que Deus o tenha...

J’ACUSE !!!

(eu acuso)


“Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice."
“Meu dever é falar, não quero ser cúmplice.” (Émile Zola)


- Tributo ao professor Kássio Vinícius Castro Gomes -

Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do estudante foi ter que... estudar!).
A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes. Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O ápice desta escalada macabra não poderia ser outro.

O professor Kássio Vinícius Castro Gomes, 39 anos, pagou com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos ambientes escolares.
Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de convivência supostamente democrática.

No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”. A coisa continuou: “Não reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis, pois “temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. Aliás, “prova não prova nada”. Deixe o aluno “construir seu conhecimento.” Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, “é o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal de contas, ele está pagando...

E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidêmica, travestida de “novo paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos que mudar ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter conhecimento é ser ‘crítico’.”

Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno – cliente...

Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que “o mundo lhes deve algo”.

Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar.

Ao assassino, corretamente , deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. A acusação penal a o autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca:

EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;

EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a “revolta dos oprimidos”e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vítimas;

EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;

EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem tranqüilas, provas de mentirinha, para “adequar a avaliação ao perfil dos alunos”;

EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação de cursos superiores completamente sem condições, freqüentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;

EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;

EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual, finge que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;

EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu “tantos por cento”;

EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno “terá direito” de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo para o desespero de seus futuros clientes-cobaia;

EU ACUSO os que agora falam em promover um “novo paradigma”, uma “ nova cultura de paz”, pois o que se deve promover é a boa e VELHA cultura da “vergonha na cara”, do respeito às normas, à autoridade e do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do conhecimento;

EU ACUSO os “cabeça – boa” que acham e ensinam que disciplina é “careta”, que respeito às normas é coisa de velho decrépito;

EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;

EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição.

EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os professores sejam “promoters” de seus cursos;

EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela ocorrência dos incidentes maiores;

Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos -clientes, serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia.

Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de “o outro”.

A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo.”

Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor “nova cultura de paz” que podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.

Igor Pantuzza Wildmann
Advogado – Doutor em Direito. Professor universitário.




domingo, 27 de março de 2011

A Criança de 6 ANOS no Ensino Fundamental

Estou lendo o livro A CRIANÇA DE 6 ANOS NO ENSINO FUNDAMENTAL, de Andrea Rapoport, Dirléia Fanfa Sarmento, Marta Nörnberg e Suzana Moreira Pacheco (Orgs.) , que custa em média R$ 34,00 e onde os autores ressaltam a importância de se reorganizar o ensino fundamental de nove anos, garantindo às crianças de seis anos tempos e espaços lúdicos adequados a essa faixa etária. Dentro dessa concepção, apresentam teorias e práticas educativas em alfabetização e em várias áreas do conhecimento, ressaltando a importância das brincadeiras, do afeto e da criação de um ambiente rico de exploração nessa etapa de escolarização. Destaca-se um tema raro na literatura que trata da importância do acompanhamento às crianças na fase de adaptação.
É um livro muito interessante, ainda mais para mim que estou lecionando exatamente para essas crianças do 1º ano do Ensino Fundamental! Mas, como sempre, é fato que discordei de algumas coisas apresentadas... O livro foi indicado pelo MEC, faz parte do PNBE - Programa Nacional Biblioteca da Escola - , trazendo consigo muitas ideias de uma proposta de educação onde o processo de alfabetização dura 3 anos!

É dito que não temos a obrigação de alfabetizar nossos alunos no 1º ano, que eles terão até o 3º ano para estarem alfabetizados, o que, como sempre, é lindo na teoria mas que na prática é um absurdo... Será que os filhos dessas pessoas (autores desse livro ou integrantes do MEC) levaram 3 anos para serem alfabetizados? Aposto o que vocês quiserem que NÃO! - Existe uma grande demanda de ansiedade quando a criança ingressa no 1º ano, antiga Classe de Alfabetização, os pais, a família (que transmite essa ansiedade para a criança), a sociedade como um todo quer que essa criança chegue ao final do ano lendo e escrevendo, mesmo que não seja ortograficamente! E a autoestima do professor-alfabetizador, que chegará ao final do ano letivo sem que seus alunos tenham sido alfabetizados? E as piadinhas que esse professor terá de escutar do colega que no ano seguinte receber uma turma de 2º ano que ainda não sabe ler?

É absurdo e contraditório que o processo de alfabetização deva ter duração de 3 anos, porquanto no 1º capítulo desse livro sejam dadas várias explicações de como as crianças de 6 anos aprendem, de acordo com Piaget, Freud e Erik Erikson... Uma criança de 6 anos saudável tem plenas capacidades motoras e cognitivas para aprender a ler e a escrever! Então por que prolongar o processo? Por que esticar para 3 anos a alfabetização? São apenas 27 letras/fonemas em nosso alfabeto, será que os 200 dias letivos não são suficientes para aprendê-las?

Será por isso que, embora os livros do 1º sejam consumíveis, os livros que recebemos para auxiliar na alfabetização dos alunos sejam tão diferentes das antigas cartilhas de alfabetização? Fala-se tão mal do ensino tradicional, da alfabetização através de cartilhas, da falta de contexto destas e tudo mais, mas esquecem-se de que era através delas que todos eram alfabetizados há anos atrás, numa época em que as crianças realmente tinham de sair lendo e escrevendo das Classes de Alfabetização (CA)... Outro dia vi um aluninho de escola particular, aos 5 anos lendo várias palavrinhas simples (bolo, bola, boneca, cavalo...), eu achei bonitinho e fui conversar com ele, então ele me mostrou, com muito orgulho, sua cartilha, extramamente tradicional, mas que estava funcionando perfeitamente, porquanto eu já tenha visto alunos do 3º ano da escola pública que não lêem nem essas palavrinhas simples...

O método que se quer implantar atualmente é o analítico, ou da palavração, mas esse método exige que o aluno tenha ótima memória visual, para assimilar palavras inteiras! Os alunos com dislexia precisam que as letras e seus fonemas não sejam tão abstratos, aprendem melhor com uma metodologia há anos abandonada pelo ensino público, que é o método fonético (Abelhinha, Casinha Feliz), onde cada letra tem seu som e que são apresentadas através de divertidas historinhas com personagens fáceis de lembrar!
Veja como é apresentado o alfabeto no método fônico da Abelhinha:



Agora veja o alfabeto da Casinha Feliz:
Eu lembro da professora da minha irmã, que usou essa cartilha, ensinando aquela regra-decoreba que diz que "antes de P e B só se usa M", ela só explicou uma única vez que o Papai (letra P) e o Bebê (B) só andam com a Mamãe (letra M), minha irmã nunca mais esqueceu!
“A Casinha Feliz” é mais do que uma cartilha. É um conto infantil que mostra a vida de uma família e se desenvolve através de teatro, jogos e brincadeiras. Por isso, a sala de alfabetização se transforma num espaço interativo de aprendizagem, sonho de todo educador. As crianças se envolvem na experiência fascinante da leitura e da escrita e os resultados são alcançados com rapidez e eficácia. O método proposto pela “Casinha Feliz”, gestado ao longo de muito estudo e observação do comportamento infantil é, na sua essência, lúdico", diz Leda Fraguito Esteves de Freitas.

E para os que vierem a me criticar como tradicionalista, ou qualquer coisa assim, afirmo, porém, que nos Estados Unidos só se alfabetiza através do método fônico e que nas escolas bilingues caríssimas do Rio de Janeiro também...

quinta-feira, 24 de março de 2011

Aprovação Automática?!

Muito tem sido falado sobre o absurdo da Aprovação Automática, mas pouco tem sido feito para mudar essa situação no ensino público de nosso país.
Nasci em 1984, cursei meu "primário", atualmente conhecido como 1º segmento do Ensino Fundamental, no início da década de 90. Lembro bem, de quando eu era criança, dos conceitos A, B, C, D e E. Lembro que só "passava de ano" aqueles que tinham os conceitos A e B, os que tinham conceito C ficavam em recuperação e eram aprovados ou não, mas os que tinham conceito D e E ficavam reprovados direto, nem precisavam se dar ao trabalho de ir às aulas de recuperação, eram absolutas nulidades nos estudos... Todos estudávamos com afinco, ninguém queria ser reprovado, tampouco ficar em recuperação, tendo de ir a escola quando todos já estava de férias... Quando somos crianças não percebemos o real valor dos estudos em nossas vidas, o futuro parece distante e abstrato, só conseguimos pensar no agora, no momento presente, nas férias deste ano, no presente deste natal/aniversário, então estudamos não porque entendemos que será necessário para um futuro de sucesso, para uma aprovação no vestibular ou em algum concurso público, estudamos para "passar de ano", para ficar de férias logo e poder brincar na rua o dia todo, para poder tomar banho de piscina no quintal, para poder passar uns dias na casa da avó/tia/madrinha... Se tiram das crianças a "ameaça" de uma reprovação, se está tirando também essa incentivação implícita! Estudar vira uma obrigação chata e sem função perceptível aos olhos dos pequenos...
Na página 41 da revista Nova Escola desse mês (março, 2011), vem falando sobre a aprovação automática favorecer, ou não, a perda do respeito pelos professores. Vem falando também que "a motivação do aluno deve ser aprender e não apenas passar de ano", o que é muito lindo na teoria mas, na prática, pensando como criança - que já fomos -, sabemos que não é bem assim, que na infância a maior motivação para ir a escola é ver os amigos, conversar e brincar, que para uma criança o aprender é resultado da interação dela com os outros, associada às intervenções que os professores fazem, não uma motivação interna! Alguns especialistas parecem ter esquecido como é ser criança, daí ficam escrevendo essas besteiras... Na aprovação automática o que menos me preocupa é essa perda de respeito pelo professor, porquanto não somos respeitados mesmo, mas me preocupa o futuro desses jovens que vão progredindo de série ano após ano, sem terem dominado os conteúdos dos anos anteriores, sendo ridicularizados pelos colegas como "os burros", "os que não aprendem", "os INSUFICIENTES"... Fora a auto-estima deles, quando percebem que todos aprendem, menos eles, que todos sabem ler, eles não... Não adianta estar em sala de aula com alunos da mesma idade, mas com níveis de desenvolvimento intelectual tão discrepantes...
Se a reprovação tem um alto custo educacional, a aprovação dos que não alcançaram os objetivos previstos para aquele ano tem um alto custo para a sociedade... Cidadãos com baixa auto-estima, que se sentem inferiores, que não têm sucesso como seus amigos, irão buscar outras maneiras de serem reconhecidos e valorizados... E que reconhecimento maior do que ser "o dono da boca", ou o "chefão do tráfico", além do status, tem o respeito dos demais... Fora outras "profissões" que podem virar boas opções para quem "não serve para os estudos"...
Não vou ser hipócrita, seja por problemas como a dislexia ou outros tantos problemas que atrasam ou impedem o aprendizado, há pessoas que não irão conseguir aprender a ler, escrever, calcular como o esperado, mas que são muito habilidosas para outras coisas! Sou a favor de que as escolas não ensinem apenas a ler, escrever e calcular, que ensinem também alguma profissão: marcenaria, corte e costura, bordado, artesanatos... Sou a favor de uma escola em período integral, onde sejam ensinados os conteúdos obrigatórios - português, matemática, ciências, geografia, história - na parte da manhã e que na parte da tarde os alunos tenham acesso a conteúdos para a vida prática: informática, artesanato, artes plásticas, artes cênicas, marcenaria, corte e costura, bordado, tecelagem, técnicas agrícolas... Desta forma, aqueles que não fossem bons nos conteúdos obrigatórios, poderiam mostrar quem têm grande talento e habilidade para outras coisas, abrindo para esses indivíduos novos horizontes além daqueles previstos para os que não tiveram uma vida escolar/acadêmica bem sucedida...