domingo, 27 de março de 2011

A Criança de 6 ANOS no Ensino Fundamental

Estou lendo o livro A CRIANÇA DE 6 ANOS NO ENSINO FUNDAMENTAL, de Andrea Rapoport, Dirléia Fanfa Sarmento, Marta Nörnberg e Suzana Moreira Pacheco (Orgs.) , que custa em média R$ 34,00 e onde os autores ressaltam a importância de se reorganizar o ensino fundamental de nove anos, garantindo às crianças de seis anos tempos e espaços lúdicos adequados a essa faixa etária. Dentro dessa concepção, apresentam teorias e práticas educativas em alfabetização e em várias áreas do conhecimento, ressaltando a importância das brincadeiras, do afeto e da criação de um ambiente rico de exploração nessa etapa de escolarização. Destaca-se um tema raro na literatura que trata da importância do acompanhamento às crianças na fase de adaptação.
É um livro muito interessante, ainda mais para mim que estou lecionando exatamente para essas crianças do 1º ano do Ensino Fundamental! Mas, como sempre, é fato que discordei de algumas coisas apresentadas... O livro foi indicado pelo MEC, faz parte do PNBE - Programa Nacional Biblioteca da Escola - , trazendo consigo muitas ideias de uma proposta de educação onde o processo de alfabetização dura 3 anos!

É dito que não temos a obrigação de alfabetizar nossos alunos no 1º ano, que eles terão até o 3º ano para estarem alfabetizados, o que, como sempre, é lindo na teoria mas que na prática é um absurdo... Será que os filhos dessas pessoas (autores desse livro ou integrantes do MEC) levaram 3 anos para serem alfabetizados? Aposto o que vocês quiserem que NÃO! - Existe uma grande demanda de ansiedade quando a criança ingressa no 1º ano, antiga Classe de Alfabetização, os pais, a família (que transmite essa ansiedade para a criança), a sociedade como um todo quer que essa criança chegue ao final do ano lendo e escrevendo, mesmo que não seja ortograficamente! E a autoestima do professor-alfabetizador, que chegará ao final do ano letivo sem que seus alunos tenham sido alfabetizados? E as piadinhas que esse professor terá de escutar do colega que no ano seguinte receber uma turma de 2º ano que ainda não sabe ler?

É absurdo e contraditório que o processo de alfabetização deva ter duração de 3 anos, porquanto no 1º capítulo desse livro sejam dadas várias explicações de como as crianças de 6 anos aprendem, de acordo com Piaget, Freud e Erik Erikson... Uma criança de 6 anos saudável tem plenas capacidades motoras e cognitivas para aprender a ler e a escrever! Então por que prolongar o processo? Por que esticar para 3 anos a alfabetização? São apenas 27 letras/fonemas em nosso alfabeto, será que os 200 dias letivos não são suficientes para aprendê-las?

Será por isso que, embora os livros do 1º sejam consumíveis, os livros que recebemos para auxiliar na alfabetização dos alunos sejam tão diferentes das antigas cartilhas de alfabetização? Fala-se tão mal do ensino tradicional, da alfabetização através de cartilhas, da falta de contexto destas e tudo mais, mas esquecem-se de que era através delas que todos eram alfabetizados há anos atrás, numa época em que as crianças realmente tinham de sair lendo e escrevendo das Classes de Alfabetização (CA)... Outro dia vi um aluninho de escola particular, aos 5 anos lendo várias palavrinhas simples (bolo, bola, boneca, cavalo...), eu achei bonitinho e fui conversar com ele, então ele me mostrou, com muito orgulho, sua cartilha, extramamente tradicional, mas que estava funcionando perfeitamente, porquanto eu já tenha visto alunos do 3º ano da escola pública que não lêem nem essas palavrinhas simples...

O método que se quer implantar atualmente é o analítico, ou da palavração, mas esse método exige que o aluno tenha ótima memória visual, para assimilar palavras inteiras! Os alunos com dislexia precisam que as letras e seus fonemas não sejam tão abstratos, aprendem melhor com uma metodologia há anos abandonada pelo ensino público, que é o método fonético (Abelhinha, Casinha Feliz), onde cada letra tem seu som e que são apresentadas através de divertidas historinhas com personagens fáceis de lembrar!
Veja como é apresentado o alfabeto no método fônico da Abelhinha:



Agora veja o alfabeto da Casinha Feliz:
Eu lembro da professora da minha irmã, que usou essa cartilha, ensinando aquela regra-decoreba que diz que "antes de P e B só se usa M", ela só explicou uma única vez que o Papai (letra P) e o Bebê (B) só andam com a Mamãe (letra M), minha irmã nunca mais esqueceu!
“A Casinha Feliz” é mais do que uma cartilha. É um conto infantil que mostra a vida de uma família e se desenvolve através de teatro, jogos e brincadeiras. Por isso, a sala de alfabetização se transforma num espaço interativo de aprendizagem, sonho de todo educador. As crianças se envolvem na experiência fascinante da leitura e da escrita e os resultados são alcançados com rapidez e eficácia. O método proposto pela “Casinha Feliz”, gestado ao longo de muito estudo e observação do comportamento infantil é, na sua essência, lúdico", diz Leda Fraguito Esteves de Freitas.

E para os que vierem a me criticar como tradicionalista, ou qualquer coisa assim, afirmo, porém, que nos Estados Unidos só se alfabetiza através do método fônico e que nas escolas bilingues caríssimas do Rio de Janeiro também...

3 comentários:

  1. Olá!Durante meus primeiros anos de magistério, numa escola particular, tive o privilégio de alfabetizar pelo processo fônico, utilizando "A Casinha Feliz". Funcionava, ele é lúdico, acerta em cheio o imaginário infantil. As crianças aprendiam rápido e não tinham medo do enfrentamento de textos variados. As pessoas confundiram os estudos da psicogênese da leitura e escrita com método de alfabetização e deu no que deu, mas algumas escolas particulares como vc. bem disse continuaram. Tive que pagar uma professora particular para alfabetizar minha filha, pois na escola dela... Um abraço!

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  2. Ola, fiquei encantada com esta sua publicação, que maneira linda de escrever sobre um assunto tão serio quanto o da educação no nosso país...
    Parabéns

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  3. Minha filha você é professora de escola pública e lida com essas realidades e dificuldades todos os dias só posso concordar com tudo o que você diz!

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