quinta-feira, 24 de março de 2011

Aprovação Automática?!

Muito tem sido falado sobre o absurdo da Aprovação Automática, mas pouco tem sido feito para mudar essa situação no ensino público de nosso país.
Nasci em 1984, cursei meu "primário", atualmente conhecido como 1º segmento do Ensino Fundamental, no início da década de 90. Lembro bem, de quando eu era criança, dos conceitos A, B, C, D e E. Lembro que só "passava de ano" aqueles que tinham os conceitos A e B, os que tinham conceito C ficavam em recuperação e eram aprovados ou não, mas os que tinham conceito D e E ficavam reprovados direto, nem precisavam se dar ao trabalho de ir às aulas de recuperação, eram absolutas nulidades nos estudos... Todos estudávamos com afinco, ninguém queria ser reprovado, tampouco ficar em recuperação, tendo de ir a escola quando todos já estava de férias... Quando somos crianças não percebemos o real valor dos estudos em nossas vidas, o futuro parece distante e abstrato, só conseguimos pensar no agora, no momento presente, nas férias deste ano, no presente deste natal/aniversário, então estudamos não porque entendemos que será necessário para um futuro de sucesso, para uma aprovação no vestibular ou em algum concurso público, estudamos para "passar de ano", para ficar de férias logo e poder brincar na rua o dia todo, para poder tomar banho de piscina no quintal, para poder passar uns dias na casa da avó/tia/madrinha... Se tiram das crianças a "ameaça" de uma reprovação, se está tirando também essa incentivação implícita! Estudar vira uma obrigação chata e sem função perceptível aos olhos dos pequenos...
Na página 41 da revista Nova Escola desse mês (março, 2011), vem falando sobre a aprovação automática favorecer, ou não, a perda do respeito pelos professores. Vem falando também que "a motivação do aluno deve ser aprender e não apenas passar de ano", o que é muito lindo na teoria mas, na prática, pensando como criança - que já fomos -, sabemos que não é bem assim, que na infância a maior motivação para ir a escola é ver os amigos, conversar e brincar, que para uma criança o aprender é resultado da interação dela com os outros, associada às intervenções que os professores fazem, não uma motivação interna! Alguns especialistas parecem ter esquecido como é ser criança, daí ficam escrevendo essas besteiras... Na aprovação automática o que menos me preocupa é essa perda de respeito pelo professor, porquanto não somos respeitados mesmo, mas me preocupa o futuro desses jovens que vão progredindo de série ano após ano, sem terem dominado os conteúdos dos anos anteriores, sendo ridicularizados pelos colegas como "os burros", "os que não aprendem", "os INSUFICIENTES"... Fora a auto-estima deles, quando percebem que todos aprendem, menos eles, que todos sabem ler, eles não... Não adianta estar em sala de aula com alunos da mesma idade, mas com níveis de desenvolvimento intelectual tão discrepantes...
Se a reprovação tem um alto custo educacional, a aprovação dos que não alcançaram os objetivos previstos para aquele ano tem um alto custo para a sociedade... Cidadãos com baixa auto-estima, que se sentem inferiores, que não têm sucesso como seus amigos, irão buscar outras maneiras de serem reconhecidos e valorizados... E que reconhecimento maior do que ser "o dono da boca", ou o "chefão do tráfico", além do status, tem o respeito dos demais... Fora outras "profissões" que podem virar boas opções para quem "não serve para os estudos"...
Não vou ser hipócrita, seja por problemas como a dislexia ou outros tantos problemas que atrasam ou impedem o aprendizado, há pessoas que não irão conseguir aprender a ler, escrever, calcular como o esperado, mas que são muito habilidosas para outras coisas! Sou a favor de que as escolas não ensinem apenas a ler, escrever e calcular, que ensinem também alguma profissão: marcenaria, corte e costura, bordado, artesanatos... Sou a favor de uma escola em período integral, onde sejam ensinados os conteúdos obrigatórios - português, matemática, ciências, geografia, história - na parte da manhã e que na parte da tarde os alunos tenham acesso a conteúdos para a vida prática: informática, artesanato, artes plásticas, artes cênicas, marcenaria, corte e costura, bordado, tecelagem, técnicas agrícolas... Desta forma, aqueles que não fossem bons nos conteúdos obrigatórios, poderiam mostrar quem têm grande talento e habilidade para outras coisas, abrindo para esses indivíduos novos horizontes além daqueles previstos para os que não tiveram uma vida escolar/acadêmica bem sucedida...

Um comentário:

  1. Execelente. Amei a proposta de uma ensinar também uma profissão. Eu moro em Duque de Caxias - RJ - e sofro bastante porque ao meu lado, existem muitas casas em construção, o que leva muitos jovens a trabalharem como marceneiros ou pedreiros. No entanto, eu sempre fui um menino voltado para os estudos, não fui ligado com esse lado prático. Agora, vejo que isso me faz falta, pois minha casa está sendo reformada, tenho desejo de ajudar na obra, mas não sei nada a respeito.
    A escola poderia ter me ensinado como trabalhae nessa área, aí sim, eu seria alguém mais preparado para a vida ao redor.

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